domingo, 17 de agosto de 2008

O caso da mãe cristã.

 

Em Joinville, SC, uma criança foi morta (ou morreu por acidente?) dentro de um templo da Igreja Adventista do Sétimo Dia, durante uma função. Apesar de todas as dúvidas que pairam sobre o crime, o acusado - um servente de pedreiro que algumas vezes chegou a parecer um bode expiatório sacrificado no lugar de alguém - foi julgado num tribunal quase festivo - espetacularizado pela imprensa - e condenado a 20 anos de prisão.


Eu não acompanhei a história, mas há indícios de que ele teria, na época, confessado o crime sob tortura e de que, ao contrário do que propunha a acusação, a criança não teria sido seviciada.


O fato é que, agora, ele está recluso e não pode recorrer.

 

Pois bem: não é terror bastante ter o rapaz acusado de matar Grabrielli de passar os próximos 20 anos de sua vida na cadeia? Não é punição suficiente perder a liberdade e ter a cidadania travada por duas décadas?

Segundo a mãe da menina - que deve ser adventista -, não! Pelo crime, a pena foi pequena, disse. É o que Jefferson Saavedra pinçou dos depoimentos dela e estampou na coluna AN.portal, à p. 2 de A notícia (se você for dotado de paciência digital, visite o blog dele em an.com.br / domingo, 17/08/2008).

Ora, a declaração da mãe da menina é típica de uma imensa parcela dos cristãos. Reflete ódio e vingança e parece desejar a pena de morte para o criminoso, bem ao contrário da proposta evangélica de oferecer a outra face e, sobretudo, de perdoar.

Claaaro, precisamos compreender que ela está com o coração ferido pelo desaparecimento brutal da sua criança, mas, isto não deveria anular o seu bom senso, nem o nosso. O que nos distingue dos criminosos em geral é que, diante dos reveses da vida, tentamos manter a lucidez em vez de sairmos trucidando todo mundo.

Mas, ela não tem culpa. A culpa é de uma certa tradição político-religiosa que vem acompanhando o cristianismo ao longo de sua história e dele não pode ser ainda inteiramente separada: a tradição do olho-por-olho e do dente-por-dente, modo jurídico que regulava as tribos da Mesopotâmia e que, desde que Israel declarou-se o povo eleito de Deus (haja prepotência!), passou a difundir-se com ele para o oriente próximo e depois, com o movimento cristão, para a Europa.

Mas, quantos dois-mil anos mais serão necessários para que a doutrina cristã seja realmente compreendida e praticada - não na forma reguladora e burra como a maior parte dos fanáticos e fundamentalistas quer, mas segundo a proposta lúcida e generosa que a caracteriza nas origens?

Bem, eu não tenho muita certeza de que isto venha a ocorrer. Ao contrário, como se pode ver tanto no mundo cristão quanto no islâmico, um fundamentalismo furioso e bárbaro parece alçar-se como modelo de religiosidade - contra todo o empenho civilizatório dos últimos séculos da nossa história.

Sei lá...

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