quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

18/02/2010

Do que perdemos

Borges de Garuva

É verdade, sim:

damos subitamente mais valor ao que perdemos.

Foi assim com minha amiga,

de quem ouvia com certa impaciência,

nas noites de bebedeira interminável,

as lamentações existenciais.

Quanta saudade senti, por longo tempo,

das suas ladainhas madrugueiras,

depois que ela se escondeu

sob aquele monturo de flores

ao pôr-do-sol.


Foi assim com meu irmão,

quando sumiu no túmulo

com suas fantasias e sonhos,

com seu jeito quase fitzcarraldiano de ser...


Foi assim com minha mãe,

depois que a encontrei

transformada em pequena múmia

no vácuo de uma emfermaria de hospital.

Quanta saudade senti da sua impaciência,

das suas reclamações,

da sua tonelada de doenças

e outros males

que a afligiam

como se a ninguém mais.

Depois que perdi,

senti falta daquela

que se ocultava por trás dos reclames,

a minha velha.


É assim contigo,

agora que partiste

para desenhar tua pele

nãos mãos de outro.


É assim comigo,

que,

te perdendo,

me perdi.

E sinto saudade

de mim.


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