quarta-feira, 4 de maio de 2011

Caríssimo Leonardo

Borges de Garuva
Publicado em A Notícia, em 8/04/2011.

Sou admirador das tuas ideias, compartilho tuas preocupações e me inspiro nos teus escritos ao decidir sobre minhas atitudes de cuidado e respeito para com nosso planeta.

Ouvi tua fala na 8a. Feira do Livro de Joinville, surpreso com as 2.000 pessoas e o respeito de adolescentes, jovens e adultos em relação às tuas palavras. A presença de estudantes, professores e outros trabalhadores, artistas, empresários, funcionários do governo e vereadores revela também o alcance social das tuas ideias.

Fascinam-me a clareza com que te diriges às pessoas e a agudeza com que denuncias aspectos predatórios do nosso modo de vida. Da mesma forma, valorizo o fato de termos um representante nosso a interferir nos fóruns em âmbito nacional e planetário – sobretudo porque podemos confiar nas tuas posturas e na pertinência da tua indignação e do teu aconselhamento.

Reconheço a força dos princípios ou valores de mudança que propões para desenvolvermos uma nova consciência e novas práticas visando legar para o futuro uma Terra habitável.

Entretanto, mesmo podendo parecer pretensioso, gostaria de deixar aqui uma contribuição em relação ao sétimo princípio.

O avanço civilizatório do ecumenismo possibilitou, nas últimas décadas, a inclusão mútua de uma ampla diversidade de abordagens da fé — e percebo, quando escolhes o termo "espiritualidade" como o sétimo valor a ser cultivado para a construção desse mundo melhor, que te referes a esse avanço congregador das sociedades.

Porém, por sua configuração histórica, a espiritualidade — definida principalmente como busca pela transcendência ou como cultivo dos valores metafísicos — exclui uma parcela significativa da população da Terra, algo em torno de um bilhão de indivíduos que não são adeptos de nenhuma crença: os que se definem e/ou são não-religiosos, os agnósticos, os que cultivam práticas ancestrais mas não religiosas de relação com a natureza e também os ateus.

Sugiro, então, que como sétimo princípio seja adotada a cultura da contemplação (lembro Alcione Araújo, teu parceiro no livro de Emir Sader, "Os sete pecados do capital"), capaz de incluir tanto a espiritualidade dos crentes quanto aquele encantamento cósmico dos descreventes, que, ao longo da história, tem produzido — bem longe dos altares — contribuições respeitabilíssimas para o conhecimento e a preservação da Mãe Terra e sua maravilhosa diversidade, nascidas de um materialíssimo amor darwiniano pela natureza.

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